segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Carta ao trabalhadores(as) em Educação da rede estadual em Greve

Trabalhadoras e trabalhadores em Educação!
Chegou o momento crucial do movimento. Até então, decidir em assembleia pela adesão à greve sem ameaça de desconto em folha pelos dias parados não exigia tanto da categoria. Mas, e agora? Qual o comportamento que teremos diante da real ameaça de corte no vencimento salarial a partir de outubro? É verdade que ainda não ouvi ninguém dizer que vai voltar para sala de aula por medo das ameaças do governador. Só que alguns estão dizendo que já estão sabendo que fulano e beltrano não pretendem continuar no movimento paredista. Nas assembleias que realizamos semanalmente esses fulanos e beltranos não aparecem.
Ainda bem que há um número significativo de trabalhadores em educação sintonizados com o movimento e propensos a radicalizar, inclusive ocupando prédios públicos ou interditando avenidas. A ideia de panelaço é ótima! Nosso sucesso depende dessa vanguarda, formadora de opinião e capaz de convencer os inertes de que as conquistas muitas vezes resultam de sacrifícios.
Seria muito bom se todos os professores fossem exclusivos da Secretaria Estadual de Educação. Melhor ainda se tivéssemos duzentas horas numa única escola, tendo pelo menos 20% de tempo livre para atividades extra-classe. Tudo isso regado a um piso salarial de R$ 1.450,00 (eu falei piso, não teto!). Seria excelente! Só que a realidade é outra. Trabalhar em duas ou mais escolas estaduais parece ser a regra, não por opção dos professores. A questão salarial também pesa, obrigando muitos a buscarem carga horária em escolas municipais ou particulares. O resultado disso todos conhecem: falta de tempo para participar das assembleias; impossibilidade de ir a Belém nas grandes manifestações. Há quem ouse afirmar que até o voto pela greve soa como válvula de escape diante do exíguo tempo livre que esses profissionais dispõem. Prefiro acreditar que a decisão em suspender as aulas foi resultado de uma postura consciente de cada um dos mais de cento e cinquenta professores presentes no pátio da escola Cônego Leitão.
Pelo sim, pelo não, chegou o momento de saber se estamos realmente imbuídos do mesmo ideal. Ter medo até que é aceitável. O que é repugnante é a covardia. Justificar sua ausência dos atos públicos e assembleias por estar trabalhando em escolas municipais ou privadas até que aceitamos. Agora, retornar sorrateiramente às escolas para trabalhar após passar uma temporada no ócio é desonesto. Essa possibilidade impele os aguerridos à radicalização. Nossa tarefa torna-se mais árdua, pois primeiro precisamos convencer os possíveis refratários de que o governo aposta no enfraquecimento do movimento grevista.
Não vou apostar porque não se trata de um jogo. Se fosse, depositaria todas as fichas no movimento sindical. Mais do que em anos anteriores, percebo uma dose maior de coerência em nossas lideranças. A participação da categoria também é mais expressiva lá e aqui. A decisão do STF, a postura arrogante do governo estadual, a inconsistência da decisão do juiz Helder Lisboa, a proposta indecente de Simão Jatene em pagar a diferença do piso em 24 meses e a visível sintonia entre a direção do sindicato e a categoria nos dão a certeza de que sairemos dessa batalha vitoriosos.
Quero crer que dias melhores virão para nós, nortistas. Tomara que não demore muito o dia em que 10% do PIB nacional serão investidos em educação. Que o bom desempenho dos alunos das escolas públicas do Fundamental e do Médio possam aparecer nas manchetes não como zebra.
Oxalá um dia eu possa sorrir vendo os professores de escolas públicas matriculando seus filhos em escolas mantidas pelos impostos dos contribuintes. Acredito que estamos dando um passo decisivo para que este sonho seja transformado em realidade.
Castanhal, 20 de outubro de 2011.
Prof. Raimundo.

2 comentários:

  1. Eu também sou otimista quanto ao movimento grevista, mesmo porque o único instrumento de luta e pressão mais eficaz que temos é a greve.
    Que os nossos alunos se espelhem em nós e tenham uma aula de cidadania através da greve e assim aprendam a lutar pelos seus direitos para evitarmos nos tornar uma sociedade subalterna.

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  2. Companheiro, Parabéns pelo texto e sua contribuição ao movimento de educadores e trabalhadores em educação, contudo, como participante das greves, e procurando aprender com os camaradas(e você é um destes) a lutar sempre e não recuar considero a participação e a consciência de classe entre os professores insípida e pouco expressiva e quanto a coerência das lideranças elas serão visíveis se cobrarmos e participarmos politicamente das decisões e reuniões e mobilizações, acredito sim na greve com o realismo da luta de classes e o sonho de todos os grandes revolucionários, ainda que,tenham tombado em luta, ou em nome destes os partidos políticos tenham desviado seus ideais.
    "Ofereça-mos flores aos rebeldes que fracassaram..." frases pichadas no Maio de 1968. França.

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